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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Um papo sobre gordofobia e aceitação do próprio corpo...

Faz um tempo já que eu queria falar sobre isso, mas fui covarde e todas as vezes que eu pensava em desabafar me faltava coragem e eu achava que não era preciso, que eu devia guardar pra mim, mas hoje aconteceu um episódio que me fez ter mais certeza de que esse desabafo é necessário.
Quem me conhece desde pequena sabe que sempre fui gorda*, não tive nenhuma fase da minha vida onde eu estivesse magra e isso me aterrorizou por um tempo, pois eu sempre era Mirella a gordinha da turma, não apenas Mirella, não era conhecida como todos os outros eram por Fulano filho de Bertano, Siclano filho do dono do bar, não, eu era a gordinha e sempre fui. GordINHA, no diminutivo pra parecer fofo.  
*Obs: daí vem aquela fala: “Ohhhhhh, ela disse gorda, está se menosprezando, se colocando pra baixo”, não meus queridos, não estou, muito pelo contrário, estou afirmando o que sou pois sou muito consciente de mim, mas falemos sobre isso mais pra frente.
No ensino fundamental isso me atingiu e muito, cheguei a chorar inúmeras vezes pra minha mãe porque aquela calça jeans não me servia, porque tinha que usar determinado tipo de roupa para uma apresentação e não tinha do meu tamanho, porque nos concursos de beleza que os meninos organizavam na sala eu nunca ganhava, por inúmeros motivos que podem parecer bobos para muitas pessoas, mas que para uma garota na faixa dos 8-10 anos doíam e muito. Eu tentava me destacar na turma através das boas notas, me esforçava bastante para ser pelo menos a gordinha inteligente, e funcionava, todos queriam fazer trabalho comigo porque sabiam que seria um bom trabalho, todos me perguntavam as coisas porque: “Ah pergunta pra Mirella, ela sabe tudo”.
Nessa época fiz acompanhamento com nutricionista e foi então que achei que tudo seria diferente, agora eu ia emagrecer e ter a chance de concorrer entre as mais bonitas da sala. Mas nada mudou, continuei gorda e remoendo todas as piadinhas e comentários.
Lá pelos meus 12, 13 anos a coisa ficou um pouquinho pior, chegara a época dos namorinhos... Aí meu amigo pensa numa menina que ficou bem mal... Todas as meninas do meu grupinho eram magras, e todos os meninos queriam ficar com elas e vinham dizer isso pra mim, pois é “a gordinha” servia apenas de intermédio.
O pior de tudo era que eu não falava nada pra ninguém, e até hoje poucas pessoas sabem o que se passava comigo naquela época. Eu não falava nem para a minha mãe, não porque ela não quisesse me ouvir, mas na época passávamos por muitos problemas em casa e eu não queria preocupá-la com mais um fardo que nem era dela.
Chegou o ensino médio, a melhor e pior fase da minha vida. Passei por experiências incríveis e encontrei pessoas maravilhosas, amigos que valem ouro e que levarei pra vida toda, mas também encontrei pessoas horrorosas, que me fizeram sentir bem pior e ainda por cima me fizeram sentir como se eu estivesse no lugar errado, como se eu não pertencesse àquela realidade.
O ano de 2011 foi o pior, eu odiava a minha turma, e eles me odiavam, odiava o fato de ter que deixar de fazer perguntas aos professores por medo de ser julgada e de virar piada depois. Uma foto minha foi parar na internet e os comentários eram bem maliciosos, e somente anos depois eu descobri isso.
Me pediram pra ser goleira da sala, porque a outra goleira não queria mais, aceitei porque achei que enfim estava fazendo parte de um grupo, mas não, me chamaram por falta de opção, e eu ainda ouvi comentários do tipo “Ela vai dar uma boa goleira, cobre o gol inteiro”.
Definitivamente 2011 foi um ano péssimo.
Em 2012 as coisas mudaram um pouco, conheci os meus verdadeiros amigos e foi então que me senti segura e que aquele lugar também me pertencia, mas foi nesse ano que sofri o denominado cyberbulling, sim foi horrível e quando eu li aquelas mensagens eu só sabia chorar e me sentir um lixo. Falar em morte não é um assunto legal, nem mesmo para alguém com o mesmo sobrenome que o meu hihi, agora imagine você ler a seguinte frase se tratando de você: “O que salva em você é que você curte Legião, o resto morre”.
Pois é amiguinhos...
Talvez a pessoa que postou isso não sabia o quanto me atingiu e nem se lembre disso, mas é aquele ditado né: “Quem bate esquece, quem apanha não”.
2013, ano de grandes decisões, vestibular, escolha da profissão a seguir, possibilidade de fazer faculdade em outra cidade, problemas de saúde por causa da ansiedade, mil e uma coisas passando pela cabeça, mas só elas não bastavam, algumas pessoas ainda tentaram fazer ser um ano pior, pois é, mais uma vez fui atacada na internet, mas dessa vez eu não fui a única atingida, meu melhor amigo entrou na dança, fomos chamados de “Fat Family” e umas coisinhas mais.
Olha, a essa altura do campeonato eu já comecei a sentir ódio dessas pessoas e a me questionar o que me fazia diferente delas, porque elas achavam que tinham o direito de falar de mim daquela maneira, o que fazia delas melhor do que eu?
Passei no vestibular e foi então, em 2014 já com 17 para 18 anos, que as coisas começaram a mudar e eu comecei a ser consciente de mim. Comecei a me amar como sou, a enfim me aceitar e ser feliz.
Antes eu não falava nada pra ninguém e sempre que me perguntavam se eu era feliz “gordinha”, de novo o INHA na tentativa de não ofender e parecer fofo, eu dizia que sim e que nunca liguei para os comentários, mentia e confesso que até hoje tem vezes que eu falo isso, mesmo hoje não me importando de verdade, falo porque não quero explicar que sofri sim durante a infância e adolescência, porque na verdade o meu desejo é de que a Mirella de 8 anos pudesse ter o discernimento que tem hoje e ter evitado tanta dor.
Me cansei de ouvir frases como “Nossa você tem um rosto tão bonito, porque não emagrece” ou “Você é uma gorda bonita”,O cabelo curto ficou bom em você mesmo com o rosto redondo”, “Onde você encontra roupas do seu tamanho?” ou ainda “Desculpa perguntar mas que número você veste?”, mas nada me irritava/irrita tanto como: “Mas você não se preocupa com a sua saúde? É perigoso, né? Procura um médico sua boba ele te passa um remédio e você emagrece rapidinho”, e essa fala me irrita tanto porque eu sei que a pessoa não está de fato preocupada com a minha saúde, pra mim soa como uma crítica tentando ser coberta por uma falsa preocupação.
Caso interesse a alguém, minha saúde está maravilhosamente bem, nenhum nível de colesterol ou quaisquer outras coisas medidas pelos exames de sangue estão fora do normal, meu eletrocardiograma um chuchuzinho também, o coraçãozinho aqui está batendo no compasso haha.
Passei com um endocrinologista que me receitou pílulas para auxiliar no emagrecimento, pílulas manipuladas que custava R$200,00 a cartela, que durava pra um mês, que eu não queria tomar, e que a própria nutricionista, com quem me consultei depois, disse não serem necessárias, e ela ainda disse mais (com as palavras dela): “Flor, se eu olhasse seus exames jamais diria que você tem sobrepeso”.
Ser gordo não quer dizer necessariamente que a pessoa tenha alguma doença, e digo mais, há distúrbios, que muitos desconhecem, que faz com que as pessoas engordem, ou seja, nem sempre é falta de vergonha na cara, como muitos dizem.
Então se você é o tipo de pessoa que não pode ver um gordo e pergunta sobre a saúde dele, apenas pare porque isso não é legal. Não diga para uma pessoa gorda que o rosto dela é lindo, ela é linda por inteiro. Ahhhh, se você é do tipo que fala “Se acha com os peitões mas é gordura”, pare também meu querido, apenas pare e acho que nem preciso explicar o motivo.
Esse desabafo surgiu, pois estou acompanhando de perto uma menina de 16 anos sofrendo por não ter o corpo ideal, por se achar gorda e achar que sendo gorda ela não tem lugar. Uma garota que é incrível e que está se pautando nos padrões impostos para tentar se encaixar, uma garota que acha que ninguém vai se interessar por ela enquanto ela não usar uma calça 36.
Sei que tem gente que vai ler e dizer “Nossa quanto drama, tá se fazendo de vítima” ou ainda “Diz que não se importa com os comentários, mas aposto que ficaria feliz em perder uns quilinhos”, enfim, mil julgamentos, mas queridos tenho uns recadinhos pra vocês que acham isso: vítima eu era de mim mesma quando não me aceitava e sim eu ficaria feliz em perder uns quilinhos e em momento algum eu disse o contrário, a mensagem aqui é que eu posso, e devo ser feliz com o corpo que tenho e não é por ser gorda que eu sou menos que qualquer pessoa, ok?
Confesso que ainda tenho dilemas a resolver, como o caso do biquíni na praia ou piscina, mas estou trabalhando nisso e uma hora eu chego lá.
Para a garota de 16 anos eu digo apenas uma coisa:
“Se ame para poder amar e ser amada.”

obs: A imagem aqui publicada, assim como seus direitos autorais, pertencem aos seus respectivos proprietários e são retiradas de diversos sites que visito na internet. Caso você seja proprietário dela e queira que o seu link seja mencionado ou a imagem removida, deixe um comentário no post para que eu possa fazer as devidas alterações.



2 comentários:

  1. Você é linda!! E muito especial!
    Adolescentes podem ser muito cruéis, e a maioria atacada com medo de ser atacado.
    Isso não justifica, é claro, mas o mais importante é que vc esteja feliz!
    Afinal, gente idiota a gente encontra o tempo todo ao longo da vida.

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    Respostas
    1. Muito obrigada Helen!
      Espero que as pessoas que me atacaram no passado hoje tenham se tornado pessoas melhores e não sejam os idiotas que encontramos ao longo da vida.

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